20220115

Movido a sonho até 2023



A partir de hoje, estou apto a receber a terceira dose da vacina. O reforço coincidiria com a abertura lenta, gradual e segura adotada naturalmente à medida que foi aumentando o percentual da população imunizada. No verão da ômicron, será o contrário: o que era para ser um momento de júbilo & regozijo por representar mais um passo rumo à pretensa normalidade só me desperta ranço & preocupação. Vou tomá-la ciente de que máscara, álcool gel e isolamento ainda me acompanharão por muito tempo.

Depois da recente explosão no número de casos, conheço mais gente com covid do que com carteira assinada. Dessa vez, não são CPFs negacionistas que posso julgar sem nenhuma empatia. É gente esclarecida, que estava se cuidando, seguindo todas as recomendações para conciliar vida e sobrevivência – gente como eu, apenas com um teste de diferença. Quanto mais informação, menos certeza. A única garantia é que quem se vacina morre menos.

O bode é outro. Não quero falar da pandemia. Porque se falar da pandemia, falarei de política. E se falar de política, repetirei o óbvio. Não tem como debater, discutir é validar a estupidez. Eu estava tendo razoável sucesso nesse detox existencial até a nova variante disparar o gatilho. Um misto de revolta e desânimo, raiva disfarçada de impotência com sintomas de síndrome do impostor. É muita energia ruim contaminando a inspiração, isso não pode me fazer bem.

Pior me sentirei se mudar de assunto. Eu devia estar contando da minha última caminhada na praia sem máscara, do nhoque de mandioquinha delicioso que provei, de como era maravilhoso o Rio de Janeiro do primeiro capítulo da série sobre Nara Leão. Ou do frila de designer que desenrolei, do livro sob encomenda que começarei a escrever, dos meus avanços no xadrez online. Cá estou, porém, exercendo minha condição humana, demasiadamente humana. Qual seja, praguejando.

Tudo o que podia fazer de errado no ou contra o combate à pandemia, o PR [risos] fez com força – e vai continuar fazendo. Enquanto ele estiver por aí, o vírus também estará. Mais do que meus pequenos prazeres, eu devia estar contando como consegui mudar meu mindset e ver o copo meio cheio na política. Já torci por impeachment e prisão, hoje me agarro na esperança de este ser o último ano dessa aberração no poder. O que perdi jamais recuperarei, mas preciso voltar a sonhar.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

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