20220115

Universo em desencanto



Resistir aos homens bestiais – Bela coluna do escritor Julián Fuks sobre a decisão de “vida ou morte, de trégua ou violência, de uma mínima tranquilidade ou o agravamento do caos” que nos aguarda neste ano. A parábola da vaca que aprendeu a se defender dos lobos (tirada do livro A Viagem do Elefante, de José Saramago) é uma porrada, a conexão que o autor faz dela com a nossa realidade dói mais.

Quem lê tanta notícia? – O jornalista Marco Antonio Barbosa (o Bart!) já tinha ido fundo quando se debruçou sobre a evolução do ranking das 500 músicas de todos os tempos da revista Rolling Stone. Agora, além de análise, faz uma autoanálise. Entre funis e influencers, a descoberta amarga, mas libertadora:

Só culpo a mim mesmo pelo fracasso. Vivi por muito tempo uma ilusão meio esquizofrênica; a crença de que minha carreira atual como conteudista corporativo era um mero desvio de percurso, e que minha real vocação — escrever sobre música, cinema, livros, comportamento etc. — um dia seria retomada. Por isso, insisti tanto tempo nessa vida de publicar coisas na internet. Vai que aparece uma oportunidade, alguém importante lê, vai que alguma coisa acontece? Nesse ínterim, envelheci, vi pessoas mais jovens ascendendo nos escalões das redações, ganhando prêmios, fazendo trabalhos bacanas, lançando livros e filmando documentários. Eu fiquei por aqui mesmo. Não é que eu tenha perdido o bonde da história; eu nem cheguei a pisar na rua onde o coletivo passava.
É duro admitir, mas as pessoas não têm interesse no que escrevo.

Cultura do fingimento – Deu no Fantástico, então todo mundo já conhece Elizabeth Holmes, a menina-prodígio do Vale do Silício que arrecadou milhões de dólares para a sua startup. A tecnologia da Theranus prometia detectar centenas de doenças com uma simples gota de sangue. Nunca funcionou direito e ainda prejudicou um monte de pacientes com diagnósticos errados. A ex-“futura Steve Jobs” foi condenada por fraude. Por acaso, no ano passado li Bad Blood: Fraude Milionária no Vale do Silício, livro sobre o caso. Chega a um ponto em que absolutamente todos os envolvidos sabem que tem engodo. Quem questiona, é demitido. Quem botou dinheiro, espera retorno. A empreendedora, cada vez mais paranoica e crente na própria mentira, sustenta a farsa até o fim. O artigo levanta a hipótese de ela ser regra, não exceção.

Cine sensitivo – Filme de 1973 imaginou o mundo em 2022 e acertou muito.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

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