20230314

Oito mulheres que fazem com que todo dia seja delas



Nada como uma efeméride para resolver o problema da falta de tempo, saco & criatividade que acomete o estilista com uma frequência preocupante. Hoje mesmo me sentei diante desta tela em branco disposto a excretar um tratado que abalasse a masculinidade tóxica – e falhei miseravelmente, por uma série de razões decorrentes dos privilégios a mim concedidos. É o preço a pagar por fazer parte da população economicamente ativa.

Estava quase inventando um álibi para procrastinar sem culpa quando recebi um spam de uma clínica de estética com uma promoção exclusiva para as mulheres no dia delas. Já é: vou vasculhar no meu baú de décadas dedicadas ao jornalismo-arte, com certeza tem algo sobre a data. Achei! Sem mais delongas, fique com esta listinha publicada em 2016 em um extinto jornal catarinense com oito artistas que:

Pela postura.

Pelo rumo que deram às carreiras.

Pelas consequências de suas escolhas.

Desafiaram um meio dominado por homens e fizeram a sociedade patriarcal, machista e misógina se dobrar ao seu talento.

Billie Holiday | Negra e pobre, comeu o pão que o diabo amassou: foi violentada aos 10 anos, aos 12 fazia faxina em um prostíbulo e aos 15 caiu na prostituição em Nova York. Seu jeito sofrido e sensual de cantar jazz a livrou das ruas, mas nem o sucesso apaziguou seu espírito. Morreu em 1959 de cirrose hepática, reflexo do vício em álcool e drogas.

Nina Simone | Já era uma cantora consagrada de jazz quando abraçou o movimento negro na década de 1960, defendendo a luta armada para garantir igualdade de direitos nos EUA. De temperamento complicado, acentuado pela medicação para o transtorno bipolar, nunca levou desaforo para casa – mesmo que isso prejudicasse sua carreira.

Rita Lee | Formou com os irmãos Dias Baptista a mais incrível banda brasileira, os Mutantes. Quando o grupo perdeu a graça, pegou sua espontaneidade e foi ser feliz em outras companhias. Primeiro com a banda Tutti-Frutti, depois com o marido Roberto de Carvalho, protagonizou alguns dos momentos mais inspirados do rock e do pop nacional.

Patti Smith | Poeta, cantora, compositora, ativista. Depois de vagar pelos subterrâneos artísticos nova-iorquinos, estreou em disco em 1975 com uma fusão de rock, punk (que nem existia direito ainda) e poesia. Os versos que canta na música “Gloria”, de Van Morrison, sintetizam sua trajetória: “Jesus morreu pelos pecados de alguém, mas não pelos meus”.

Debbie Harry | De 1978 até meados dos anos 1980, ninguém foi mais sexy e identificada com a sua época. Loira, linda e empoderada, a ex-coelhinha da Playboy liderou a banda new wave Blondie, estendendo sua influência para a moda e o comportamento. Eles a cobiçavam, elas queriam imitá-la – e muitas também a desejavam.

Chrissie Hynde | Poderia estar nessa lista exclusivamente pelos méritos musicais à frente dos Pretenders, grupo inglês que emplacou hits na década de 1980. No entanto, entra aqui por ser autora da frase que, em poucas palavras, expressa a diferença entre pop e rock e dispensa tradução: “Pop is about saying ‘fuck me’. Rock is about saying ‘fuck you’”.

Madonna | A material girl talvez já se desse por satisfeita se a música apenas a tirasse do anonimato. Com o tempo, porém, soube estabelecer uma via de mão dupla com o sucesso, absorvendo novas tendências e lançando tantas outras. Tornou-se rainha do pop e, em 30 anos, já viu muitas ameaçarem seu trono. Nenhuma, porém, capaz de tirar sua coroa.

Lauryn Hill | Muitas rappers vieram antes, como Queen Latifah e Lil’ Kim. A proeza da ex-Fugees foi, graças à falta de educação de seu disco solo, ter se tornado a mulher com mais indicações ao Grammy, em 1999 – das 11, levou cinco, entre os quais melhor álbum e melhor cantora. E, mais importante do que prêmios: abriu o mercado para outras colegas.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

Nenhum comentário: