20220413

Pimenta no dos jovens é refresco



Quase não falo de música aqui, mas hoje vou abrir uma exceção para os Red Hot Chili Peppers. Embora não espere nada deles há pelo menos 20 anos, a repercussão do último disco da banda me convenceu a reconsiderar. E lá fui eu despido de qualquer pré-conceito e cheio de boa vontade ouvir Unlimited Love, lançado sugestiva e coincidentemente no primeiro dia do mês corrente.

Fãs atentavam para o fato de que o 12º álbum do quarteto marca o retorno de John Frusciante à guitarra e Rick Rubin à produção, dupla com nome nos créditos no clássico absoluto que alçou o grupo ao estrelato, Blood Sugar Sex Magik (1991). Detratores lembravam que essa é a terceira volta do guitarrista e que o resultado da última vez que ele e o produtor estiveram juntos no estúdio foi o menos-do-mesmo Stadium Arcadium (2016).

Como me identifico com os dois casos, nenhuma das assertivas acima me comoveu – e indiferente continuei depois de enfrentar os 73 minutos do disco. Resolvi recomeçar, vai que alguma gema tenha passado despercebida. Mais para desencargo de consciência, acabei marcando “Whatchu Thinkin’”, “These Are the Ways” e “She’s a Lover” ciente de que só as escutarei novamente por acidente.

Acredito em cada elogio recebido pelo disco e que isso seja o melhor que a banda consegue fazer nos dias atuais. O lance é que quem cresceu com “Fight Like a Brave”, como eu, jamais terá as expectativas de quem se emocionou com “The Other Side”. Um tem grooves multifacetados como parâmetro, outro idealiza os californianos através das baladinhas que se tornaram sua marca registrada. Deve ser o tal choque de gerações.

O meu Red Hot vai de Uplift Mofo Party Plan (1987, pré-Frusciante e Rubin) até Californication (1999, com ambos), daí em diante perdi o interesse. Já julguei muito, hoje apenas evito ouvir os discos que gravaram a partir de então temendo desgostar também dos meus prediletos, tamanho o ranço que peguei da voz de Anthony Kiedis. Em paz com minhas contradições, limito-me a confirmar com as 17 faixas de Unlimited Love o que sinto desde By the Way (2002): não é mais para mim.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

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