20220920

Sempre acredite nos seus sonhos



Por motivos que não vêm ao caso, ando sonhador. Como me comprometi comigo mesmo, anoto o que sonhei tão logo acordo para não o esquecer antes de sair de cama. Semana passada, umas 6h, escuro ainda, arregalei os olhos. Eu havia sonhado com meu compadre rindo comigo. O detalhe é que ele não tinha as duas pernas e se divertia com as próteses. Fiquei bem impressionado mesmo.

Meu padrinho de crisma – a “confirmação do batismo”, sacramento natural para um adolescente criado sob os tradicionais preceitos da família católica – gostava de interpretar as cenas que lhe assaltavam enquanto dormia. Chegava ao requinte de dar uma cochiladinha pós-almoço em busca de inspiração para apostar no jogo do bicho das 4h da tarde. Se perdia ou se ganhava, o importante é que ele sonhava.

Em Chuva de Estrelas – O Sonho Iniciático no Sufismo e Taoísmo, o historiador Peter Lamborn Wilson (procure saber) apresenta a experiência onírica como um instrumento de elevação espiritual que transcende as duas doutrinas orientais do subtítulo. Tem no Corão, no I Ching, em manuais do antigo Egito, em escritos mediúnicos da América Central, no xamanismo e nos primórdios do cristianismo.

Nos apêndices, o autor ensina macetes para decifrar a, na definição do Aurélio, “sequência de fenômenos psíquicos (imagens, representações, atos, ideias etc) que involuntariamente ocorrem durante o sono”. São orações práticas e exercícios que conduzem a revelações inalcançáveis para os infiéis. Não testei nenhuma, vai que funcionem. A última coisa que quero é saber o que vai (me) acontecer.

Depois de muito ruminar, tomei coragem para o óbvio: pesquisar na grande rede mundial de computadores se Morfeu estava tentando me dizer algo. Teclei “sonhar com amputação em outra pessoa”, surgiu “aflições imprevistas”. Digitei “sonhar com perna cortada de outra pessoa”, apareceu “você está tentando fugir dos problemas em vez de enfrentá-los”. Bati “sonhar com pessoas mortas e mutiladas”, veio “reflexão sobre o futuro”.

Foi aí que entendi por que a gente sempre deve acreditar nos nossos sonhos.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

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