20080314

A moda não incomoda quem se acomoda

Pensei que era pelo fato de ser apenas a primeira noite. Mas veio a segunda e corroborou: o negócio da moda já está tão “inserido na paisagem” que – isto é um elogio – até os clichês inevitáveis de um evento ligado ao setor perderam seu apelo e, pior, sua graça. Nem para ilustrar o ridículo inato de todo ser humano serve mais, a menos que você faça parte da massa acrítica que se deslumbra por qualquer coisa. Assim sendo, nada mais resta que não recorrer à mordacidade forçada:

|||°L°||| A história mostra que, em qualquer atividade, o nome é decisivo para salvar ou arruinar carreiras. Ninguém temeria um rapper que se apresentasse como Pedro Paulo Soares Pereira ou prestaria atenção no talento de Isabel Mebarak Rippol. A regra não vale entre as grifes participantes desta oitava edição.

|||°L°||| As duas presenças mais esperadas na primeira noite, Rodrigo Hilbert e Maryeva, não deram as caras. Ou, como dizem os finos, “fizeram forfait”. Anunciado pelo locutor como “o Ronildo (ou algo que o valha) da novela Duas Caras”, ela desfilaria para a Retook (pronuncia-se – sério! – “Retoque”) se o avião funcionasse. Ela, conforme confidenciado por fonte fidedigna, pisaria na passarela vestindo Ronnie Von Dutch “pela camaradagem”. Deve ter mudado de idéia.

|||°L°||| Supla é um cara tão safo que, ao tropeçar logo no início do trajeto reservado aos modelos da Putamania, saiu cambaleando como se fosse uma performance. Em tempo: o figurino cotidiano do papito é muito mais istáile do que os três looks que ele apresentou.

|||°L°||| Stephany Britto (“a fulana da novela tal”) abriu o desfile da Kata Bagana toda de preto ao som de um remix de “A Cause des Garçons”. No entanto, nem o traje usado, nitidamente inspirado em Ivete-Sangalo-no-Maraca, nem a versão do hit da francesinha, pontuada pela repetição de uma palavra muito parecida com “buceta” (ouça ao final do post), foram capazes de conferir sex appeal à atriz. Ao vivo e a cores, é uma criança de 20 anos. Tudo bem, Pato tem 18.

|||°L°||| Aliás, sobre as trilhas sonoras, desnecessário dizer que imperou a mesmice. Tanto que qualquer som que não fosse o housezinho sem personalidade era suficiente para chamar a atenção. A Ronnie Von Dutch veio embalada pelos acordes iniciais de “The End” (The Doors) fundida com “Killing in a Arab” (The Cure) antes de descambar para a tecnêra habitual, interrompida apenas por “Rock the Casbah” (Clash). Tritão, Coach e Teenage também se destacaram, confirmando a tendência de que o rock voltou a ser in.

|||°L°||| Quando Gianne Albertoni e Mariana Weickert desfilaram para, respectivamente, Taturana e Teenage, ficou muito clara a diferença entre modelo e manequim. Enquanto as manecas locais passaram quase batidas, as duas irromperam toda poderosas. O porte, o andar, a postura, enfim, há alguma coisa nelas que as transforma em entidades na passarela. “Atitude”, diagnosticou uma colega. “E decotão”, suspirei.

Vamos ver o que a terceira noite nos reserva. Espero reparar mais nas roupas. [Como você pode notar, isto foi escrito para ser publicado ontem, o que não ocorreu devido a um problema de ordem monopólica: os terminais da sala de imprensa, mesmo vazios, estavam reservados ao jornal que realiza o evento.]

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