Wado e De Leve novos na rede. Baixo os dois e reflito: quem diria. Acompanho a trajetória de ambos desde que surgiram. Muito já falei de sua música, sempre com a empolgação desmedida e sincera de quem acreditava que ia acontecer. O que ninguém imaginava era o que aconteceria – e a cota de estoici(ni)smo correspondente.
Com o acesso gratuito autorizado por Wado, Terceiro Mundo Festivo também está disponível em SMD a cincão. Se esbarrar com um, compro no ato. Em 2001, descrevi o autor de Manifesto da Arte Periférica como “um florianopolitano que migrou para Maceió ainda pequeno e agora quer descer o mapa com sua música rica em criatividade, em suingue brasileiro, em pop tão diferente quanto arrebatador”. Em 2002, Cinema Auditivo inspirou o seguinte apanágio: “Assimilá-lo é (...) uma questão de compreensão de mundo, do jeito de ver as coisas se desdobrar e dar a leitura correta que elas necessitam”. Em 2004, calejado, recebi A Farsa do Samba Nublado defendendo que “Wado não baliza sua carreira pelo desempenho comercial de seus discos. Ainda bem”.
Daí que reafirmo tudo sobre Terceiro Mundo Festivo. Wado chega delicado, bate ponto no sambinha e brinca com os rótulos sob seu nome na capa. Não é nada de “brazilian eletro, funk, disco, reggaeton, afoxé”. Mas têm – espalhados, disfarçados, diluídos na sonoridade cultivada pelo ex-moleque durante todos estes anos. Uma onda que prima pelo conforto, despertando com a brejeirice de “Teta” e botando para deitar e dormir embalado pela terna “Lucrécia”. Volto a repetir: Wado é fato.
Como de hábito, De Leve é mais despachado. Colocou dois EPs na Trama Virtual e ganha 10 centavos –pagos pelos patrocinadores – por download. Fiz minha parte, espero que os anunciantes façam a deles (e que você faça a sua). Em 2003, tasquei que o responsável por Introduzindo... e O Estilo Foda-se “pega o lado mais relax do rap e, ‘chapado na realidade’, manda um monte de rimas automaticamente associáveis a qualquer típico playboy branco morador da zona sul, classe média falida”. Em 2006, o Manifesto ½ 171 exigiu um histórico: “O rapper de Niterói apareceu nos cadernos de cultura dos jornais, cantou na Globo, teve música em seriado da emissora, participou de coletâneas nacionais e estrangeiras, apresentou-se em festivais descolados, conheceu Paris. ‘Mas durou pouco, a grana não veio’, lamenta em ‘Caô Fudido’”.
Em um dos trabalhos, De Leve encarna De Love, o bigode coroando o cafa-style em cinco músicas. Diz a ficha que o niteroiense tocou/programou tudo. Tem até dueto com o controverso Totonho. Não adianta, o cara não vai mudar.
Não assinando como De Leve. Sim na pele de Freitas de Freitas, vocalista da Banda Leme. Tremendo papo furado de um bando de cobras malcriadas, não fosse a) o custo zero e b) “Nadadora”, gaiatice pop na tradição que consagrou Lulu Santos e Buchecha.
Lançar – eu ia teclar “discos” – pacotes de músicas na internet. Publicar em um blog. Era isso, então? Quanto desprendimento.
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