20211020

Vapor barato



Dá um trabalho danado fingir que não me importo com as novidades musicais. Na verdade, não suporto ficar longe dos lançamentos. Tento ouvir todos que (me) importam, principalmente os nacionais. Se não falo deles por aqui, é porque não me tocam o coração. Feito o esclarecimento, saúdo a chegada de Maya, terceiro disco do pernambucano Tagore. É o tipo de som que aquece, alivia e leva para uma dimensão prazerosa.

Confesso que ainda não sei se é um artista solo ou uma banda. Tagore é o nome do vocalista (completado pelo não menos fantástico sobrenome Suassuna), mas foi como grupo que encarei o quinteto no show que vi em Florianópolis em abril de 2017. Assisti-lo ao vivo confirmou as melhores impressões que eu já tinha do álbum Pineal: no palco, a psicodelia ganhava cores e timbres mais vibrantes.

Talvez tenham sido as doses de cachaça defumada; o fato é que saí da extinta Casa de Noca, na Lagoa da Conceição, flutuando até despertar em uma loja de conveniência atrás de um saco de batata frita, em uma situação famélica que a memória guardou como bestial devastation. Aquela sensação se renova e se expande agora, sem o Tame Impala a lhe fazer sombra nem despertar comparações sempre desfavoráveis.

A banda australiana era uma referência tão forte no trabalho anterior que havia uma música chamada “Apocalipse Jeans” – uma brincadeira com “Apocalypse Dreams”, dos aussies. Enquanto os cangurus se tornaram mais sintetizados, Maya acentua o que só o Tagore tem: uma lisergia agreste, às vezes brega, sempre agradável. Além da faixa-título, recomendo “Olho Dela”, “Areias de Jeri” e “Molenguita”. Para os já iniciados, a pedida é “Espaço Tempo”. Consuma sem moderação.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

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