20230810

Um recomeço para ser feliz e colorido de novo



Aos poucos, a normalidade manda sinais. Ainda se ouve falar de muitas aberrações contra a vontade, mas pelo menos a pauta deu uma mudada. À medida que as trevas se dissipam, fica mais evidente o tanto de coisa que é preciso recuperar, reconstruir, reformar. O que ninguém imaginava era que o recomeço seria tão literal: o Restart anunciou que está voltando. Depois de oito anos desativado, o grupo vai se reunir para uma série de shows de despedida. O retorno da banda é a esperança de um Brasil feliz – e colorido – de novo.

O renascimento ocorre em momento propício. O mercado da nostalgia cresceu durante a pandemia. Trancadas em casa, as pessoas recorreram ao que já conheciam para atenuar o confinamento forçado. Mesmo após a vacina, o interesse pelo passado permaneceu em alta. Todo mundo sai ganhando. Quem vende, por reciclar um produto com demanda garantida. Quem compra, por confirmar o conforto idealizado pela memória afetiva da época de juventude. Sem surpresas, sem riscos.

Não por acaso, a turnê do Restart se chama Pra Você Lembrar. Como aconteceu nas recentes reuniões de Sandy & Júnior e dos Titãs e na última eleição, basta o apelo da saudade. Até a molecada que não tinha idade quando o artista estava no auge se mobiliza para experimentar o tempo bom a que ele remete. Nem os antigos detratores resistem. Gente que jamais gostou da banda revê seus ranços e passa a julgá-la com a condescendência reservada às coisas que não incomodam mais.

Por incrível que pareça, ali pela virada da década de 2010 o consumidor de rock & outras vertentes embaladas com guitarra, baixo e bateria levava uma vida tão suave que o Restart e seu emo diluído eram o inimigo a ser combatido. A popularidade do grupo despertava ódio em igual proporção. As roupas apertadas em tons berrantes, os penteados, o estilo musical; tudo se transformava pretexto para detestar os caras e, o insulto supremo de então, questionar a masculinidade deles.

Para mim, sempre foram apenas quatro rapazes realizando o sonho de se tornarem ricos e famosos com sua música antes dos 30. Com exceção do nome de dois integrantes (Pe Lanza e Pe Lu, como esquecer?), o resto eu ignorei. Nunca soube o título de nenhum disco, de nenhum hit e, desconfio, nunca ouvi também – se ouvi, não gravei. A maior referência que tenho da banda é o desabafo da fã decepcionada por não conseguir ver seus ídolos: “Puta falta de sacanagem”.

O sucesso do Restart me fez perceber pela primeira vez que eu estava envelhecendo rápido demais para acompanhar as metamorfoses do pop. Mas, se a energia e a alegria do quarteto inspirarem o governo (e vice-versa), prometo deixar o etarismo para trás e madrugar para pegar lugar na frente do palco. Não vejo a hora de me deliciar com a versão de “Levo Comigo” para enaltecer o Desenrola Brasil ou com a autoexplicativa “Minha Estrela”. A calça skinny laranja já está separada.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

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